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Novo estudo identifica os centros do Grande Rio

Onde pulsa o Grande Rio? Um levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) promete responder a esta pergunta. O projeto, batizado de Centralidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fará um raio x da Cidade Maravilhosa e dos outros 20 municípios no seu entorno, onde vivem 12 milhões de pessoas. O objetivo é identificar os pontos onde há maior quantidade e variedade dos serviços mais usados pela população e repensar a integração da metrópole a partir desses locais.

(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Para isso, pesquisadores subdividiram a região metropolitana em 152 unidades metropolitanas de informação (UMI). As UMIs têm entre 300 e 30 mil domicílios e estão sendo avaliadas em função de três critérios básicos. São eles: emprego, mobilidade e equipamentos e serviços. No primeiro, são analisados os tipos de empresas e vagas de trabalho da UMI. No segundo, o fluxo de passageiros e a infraestrutura de transporte. No terceiro, a presença de escolas, bancos e outros serviços do dia a dia.

Quanto maior e mais diversa for a oferta da UMI em relação a esses três aspectos, maior seu índice de centralidade. Após identificarem os pontos centrais do Grande Rio, os pesquisadores pretendem qualificá-los em relação a indicadores como número de roubos, densidade demográfica e renda média dos moradores. Todos os dados são fornecidos por fontes oficiais, como os ministérios do Trabalho e da Saúde. No fim, as informações formarão um retrato das qualidades e deficiências dos muitos centros da região metropolitana. A expectativa é que tudo esteja pronto antes de abril.

No futuro, o levantamento poderá orientar políticas públicas em saúde e outras áreas. "Não faria sentido ter um hospital ortopédico em cada cidade do Grande Rio", exemplifica o diretor do Iets Manuel Thedim. Sabendo onde as pessoas vão, fica mais fácil distribuí-los. Segundo Vicente Loureiro, diretor do Grupo Executivo de Gestão Metropolitana, a economia que isso representa em tempos de crise é muito bem-vinda. "Uma mudança de infraestrutura pode mudar o destino de uma localidade", disse ele em entrevista ao Vozerio.

Desafios

A execução de um estudo como esse está cercada de desafios. "Um dos principais é quantificar a informalidade", afirma a economista Maína Celidonio, envolvida no projeto. Nestes casos, a solução é cruzar os dados. O movimento de passageiros em Madureira, por exemplo, reflete a vitalidade do comércio informal, atraindo tanto vendedores quando o público comprador. Obter dados relacionados a pequenas áreas, como bairros e distritos, é outro obstáculo com o qual os pesquisadores se depararam e precisaram superar.

O trabalho não é o único em andamento ligado ao Grande Rio. Um consórcio de alto nível começou a desenvolver nesta semana o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana, que irá definir a expansão da rede de saneamento básico, a criação de novas linhas de ônibus intermunicipais e outras ações coordenadas entre as 21 prefeituras e o Governo do Estado. Tocam o projeto a Quanta Engenharia e o escritório do arquiteto e urbanista Jaime Lerner. O ex-prefeito de Curitiba implantou em 1974 na cidade o BRT (sigla em inglês para sistema de trânsito rápido de ônibus), ideia que chegou ao Rio quase 40 anos depois. O Plano de desenvolvimento é uma iniciativa da Câmara Metropolitana de Integração Governamental do Rio de Janeiro (CIG), criada em agosto de 2014.

Histórico

A visão de uma região metropolitana fluminense integrada não é nova. Ela tem, pelo menos, 41 anos. Em 15 de março de 1975, um decreto do governador Negrão de Lima criou a Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana (Fundrem). A função do órgão era auxiliar os prefeitos da área com o planejamento e solução problemas comuns aos municípios, como coleta de lixo, ocupação do solo e outros. Mas a falta de recursos e de uma função clara fizeram com que a Fundrem fosse extinta em 1989 por Moreira Franco.

Em 1997, Marcelo Alencar trouxe o tema da integração metropolitana à baila novamente. O então governador enviou à assembleia legislativa um decreto criando o coordenamento único para a gestão de água e saneamento básico no Grande Rio. A medida, porém, não foi bem recebida e terminou virando alvo de uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). O tribunal demorou 17 anos para dar o veredicto, que foi a favor da lei. Desde então, não surgiram novas iniciativas de peso focadas na região metropolitana fluminense.

Na última década, a expansão foi mais forte do que o adensamento territorial no Grande Rio. O forte crescimento populacional previsto pela prefeitura da capital para áreas como a Barra da Tijuca é uma prova de que essa tendência deve continuar nos próximos anos. Fenômenos como esse caminham ao lado de problemas ainda sem solução. De acordo com dados do IBGE, a região metropolitana fluminense é aquela na qual os moradores mais demoram para chegar ao trabalho.

A esperança é que estudos como o desenvolvido pelo Iets e projetos como o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana ajudem a desfazer esse e outros gargalos da área, que responde por sozinha quase 60% das riquezas produzidas pelo estado.