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59º Osterio

Osteria dell’Angolo

A Economia Verde e o Futuro do Rio

Com a Secretária Municipal de Finanças Eduarda de la Rocque, Subsecretária Estadual de Economia Verde Suzana Kahn, e Pedro Moura Castro, fundador da nova Bolsa Verde Rio. Com a moderação de Branca Americano, assessora especial para a Rio + 20 da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável

O último debate sobre meio ambiente do OsteRio, no ano passado, foi marcado por pessimismo. Porém agora, na véspera da conferência da ONU Rio + 20, os participantes desse OsteRio exibiam um astral bem para cima.

Como assim, sendo que os governos dificilmente cheguem a uma conclusão útil e pertinente à situação global?

O segredo é aquele velho lema: pense global, aja local. Pois é o que todos os debatedores estão fazendo-e muitas vezes colaborando entre si.

Trata-se de uma fase de transição, de acordo com Suzana Kahn, durante a qual os atores estão criando "uma caixa de ferramentas" para a economia verde, sendo que a maioria dos agentes já parte para executar as ideias, mesmo sabendo que erros serão cometidos. "Tem que sair do conceitual e ir para a execução," disse ela.

Uma dessas ferramentas é a nova Bolsa Verde Rio, que aparece agora para atender ao Código Florestal de 1996, que prevê compensações ambientais por parte de empresas que causam impactos ambientais negativas. Pedro Moura Castro trabalhou vinte anos em Londres e na Malásia nesta área, e voltou recentemente ao Rio de Janeiro para criar a BVRio (http://www.bvrio.org/site/).

Hoje, já acabou a fase de sensibilização sobre impactos ambientais, disseram os participantes no debate. Há consenso de que as empresas têm que mensurar o desempenho em termos não apenas econômicos, mas também sociais e ambientais. Já muita gente pensa que a definição de PIB tem que mudar, para incluir custos e ganhos ambientais.
Tanta coisa mudou nos vinte anos desde a Eco 92 que a Greenpeace, ONG renomada por suas ações guerrilheiras, recentemente causou surpresa a Moura Castro. Seus representantes pediram uma reunião com ele —para falar da criação de centros de dados verdes no Rio.

"Sou uma recém convertida à causa ambiental," confessou Duda de la Roque. "Eu pensava que [isso] poderia esperar porque a questão social era mais importante. O Sérgio Besserman [presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana] me convenceu."

Em agosto, de la Rocque sairá da Secretaria municipal de Finanças para presidir o Instituto Pereira Passos, responsável pela UPP Social. Pretende tratar de questões ambientais no seu trabalho lá, juntando esforços do governo, o setor privado e o terceiro setor.

Todos ficaram com vontade de saber mais sobre a Bolsa Verde. É um mercado de créditos de carbono, reservas florestais, e créditos de reciclagem, Moura Castro explicou. Por exemplo, um pecuarista que não dispõe de terra para plantar as árvores requeridas pelo governo pode terceirizar essa tarefa. A Pirelli, em vez de coletar e reciclar pneus ela mesma, conforme o requerimento da lei, pode passar essa função para outra empresa, pagando por isso. "É uma técnica que agiliza o cumprimento da lei" disse ele, ressaltando que muitas vezes as dificuldades levam as empresas a ignorar certas leis no Brasil, que se tornam inúteis.

De la Rocque prevê o surgimento de novas empresas e de empregos para atender às atividades da Bolsa. Em Londres, os serviços ambientais empregam 60 mil pessoas, e levaram a criação de nove mil empresas com receita de 23 bilhões de libras por ano. Aqui veremos novas corretoras, consultores, e certificadores, ela prevê. A ideia é "colocar o mercado financeiro para trabalhar por causas socioambientais," diz ela.

Kahn acrescentou que a existência de muitos centros de pesquisa no Rio, que se torna a "capital da energia", só traz valor agregado à Bolsa.

De la Rocque acrescentou que a Bolsa Verde Rio, em conjunto com o BNDES e a CVM, "pode ser o estopim para coisas grandes". Sugeriu juntar a regulamentação do mercado financeiro, técnicas para a erradicação da pobreza e um mercado de fundos de investimentos socioambientais para criar uma espécie de CVM +. "Sou muito otimista com o que vem depois da Rio + 20", disse ela.

Aspásia Camargo, deputada estadual e candidata a prefeito esse ano pelo Partido Verde, tinha dúvidas apenas no sentido de aprofundar o que vinha se falando na mesa. Prevê desafios na hora de precificar e valorar diferentes elementos da natureza.

Manuel Thedim, também adepto recente ao ambientalismo, perguntou quem paga o custo das adaptações das empresas, já que os ganhos são de longo prazo.
Andrea Gouvea Vieira, vereadora, perguntou se haveria trocas na Bolsa para pagar a destruição das árvores da praça Nossa Senhora da Paz, ou o impacto ambiental da barragem Belo Monte, por exemplo.

Moura Castro assegurou que a Bolsa não vai compensar qualquer degradação ambiental, apenas os impactos do setor privado conforme previsto em lei. A fiscalização governamental e da sociedade civil continua cumprindo seu papel atual. Kahn ofereceu o exemplo de uma siderúrgica que pela lei teria que diminuir suas emissões. No caso da empresa já estar utilizando tecnologia de última geração, ela teria que recorrer à Bolsa para efetuar sua compensação em outro local.

Daniel Plá desconfiava das ONGs, enquanto a norteamericana Nicole, tomando coragem pela primeira vez para fazer uma pergunta, queria saber como os cidadãos podem vigiá-las, ou se o governo poderia avaliá-las em termos de confiabilidade, e criar um ranking.

Outra fonte de desconfiança, do publicitário Lula Vieira, é da fiscalização governamental do setor privado. Para ele, a corrupção pode ser incontornável.
A fiscalização melhora, de acordo com de la Rocque; é uma questão cultural sujeita a mudanças.

Eduardo perguntou se a Bolsa vai investir em ciência. Sim, respondeu Moura Castro, que tem uma PhD em biotecnologia; a atuação dela se baseia em transparência, coerência e ciência, levando à eficiência.

A noite fechou em clima de festa pelo meio ambiente, com a deputada Camargo anunciando um legado para a cidade do Rio de Janeiro: o polo de pesquisas de desenvolvimento sustentável, da ONU, o Centro Rio + .

Veja esse link para mais informações http://oglobo.globo.com/rio20/rio-tera-centro-de-pesquisas-da-onu-5187174